Pular para o conteúdo

O que é Arte

    Arte, reflexões primárias

    A cada dia que passa, menos me interessa falar sobre arte. Defini-la? Não existe pretensão mais tola. A ARTE está acima de qualquer definição. Já li muito a propósito, e obras memoráveis. Hoje contenta-me sorvê-la, devorá-la, contemplá-la.

    Existem dois ou dois mil modos de descoberta. Eles podem nos levar  à mais duradoura paixão. Você pode descobrir através do outro (o mentor) mas pode também descobrir só ou mediante um fato ou uma coisa. Particularmente uma outra coisa, sempre outra e sempre abstrata. A dúvida e o mistério são fundamentais ao processo. Os elementos mais importantes são linha, a forma da cor. A forma sempre significa e significa ordem. Ela estrutura o conceito. A linha é a intelectualidade, a dinâmica e o ambiente, a cor é antes de tudo sensualidade e sentimento. A linha é a artéria do desenho, o traço é seu caráter, a cor é a carne da pintura.

    Na arte a simplicidade é uma conquista, nela existe sempre algo de sonoro. O espaço e a linha nos apresentam a superfície. Nela a figura pode ser e estar, mas, não é impreterível. A ousadia, a dúvida e até o medo constituem algumas das mais eloquentes formas de arte. Na arte o tema é importante embora secundário. O que importa é a arte em si. Nela não se pode despresar o vocacional. Pobre do artista que não se vale  do acidente. 

    Egas Francisco – Artista Plástico

    09/09/2023.

    O que é Arte

    Cada época define arte de uma maneira própria. Mas para decidir o que é arte nossa cultura possui instrumentos específicos, como o discurso sobre o objeto artístico, cuja autoridade reconhecemos, como na atividade do crítico, do historiador da arte, do conservador de museu. Também existem locais específicos onde encontrar arte, como nos museus, galerias, cinemas, teatros, salas de concerto. Podemos dizer que um edifício tombado também é arte, já que o Patrimônio Histórico disse que é. Aqui estamos numa área que podemos chamar de “sistemas da arte”.

    Mas e para o indivíduo que frequenta esses objetos, nesses ambientes próprios ou fora deles, o que é arte? Kant dizia que existem duas experiências proporcionadas e relacionadas com a apreciação artística: uma intelectual (que te faz entender a obra dentro de contextos específicos), e outra, de natureza sensível, que ele chama de gozo desinteressado. Para o filósofo, esta última é a verdadeira experiência estética. Ela atinge o centro do nosso ser, nos dando prazer e satisfação diante do belo. Nesse sentido, a arte é inútil (como dizia Rousseau), tendo como fim o gozo sem nenhuma utilidade prática, nos fazendo ter apenas prazer. Talvez por isso o poeta Paulo Leminsky disse que “a arte é um objeto inutilitário”, por ser desligado de qualquer finalidade.

    De qualquer forma, o objeto artístico nos toca de alguma maneira, seja nos comovendo, nos angustiando, nos alegrando ou nos propondo uma forma diferente de ver o mundo. Não há dúvida de que a arte amplia nossa sensibilidade (para o bem ou para o mal), nos fazendo perceber o mundo a partir da forma, aumentando nossa atenção aos detalhes das coisas, dos seres e da natureza. Os estetas (como Schiller, no seu livro Carta sobre a educação estética do homem) defendiam a ideia de que a arte é uma forma de cognição, uma forma de apreensão e entendimento do mundo por outra via que não a da razão. A arte, desse ponto de vista, tem como ponto de referência o reino do sensível e a ele se direciona.

    Texto de Jardel Dias Cavalcanti

    Jardel é professor de História da Arte em Londrina, Universidade Federal do Paraná. Mestre e Doutor pela Unicamp